A distribuição da droga anti-HIV começa este mês
Com o objetivo de reduzir o
aumento de novos casos de HIV entre jovens gays, o governo brasileiro começa a
distribuir este mês às populações mais vulneráveis a droga Truvada, capaz de
prevenir a infecção pelo vírus. Será o primeiro país da América Latina a adotar
regularmente o uso do medicamento.
Parte do Programa de
Profilaxia Pré-Exposição (Prep), ele será oferecido gratuitamente em 35 centros
de saúde de 11 Estados. São dez mil tratamentos preventivos disponíveis
inicialmente.
Estudo inédito, feito em parceria
entre o Programa de SIDA da ONU (Unaids) e o aplicativo de encontros gays
Hornet, com 3.218 usuários, revelou que pelo menos 27% dos entrevistados mantêm
relações sem preservativos. Segundo o trabalho, 36% estariam dispostos a usar a
Prep.
Entre 2006 e o ano passado, o
total de casos de SIDA entre homens de 15 a 19 anos praticamente triplicou,
chegando a 6,7 casos por 100 mil habitantes, segundo o Unaids. Entre homens de
20 a 24 anos, o número quase dobrou, alcançando 33,9 casos por 100 mil. Os
jovens são menos propensos também a usar o preservativo. Entre os soropositivos
dessa faixa, está a menor taxa de pessoas em tratamento: 34%, ante 14% na faixa
acima dos 60 anos.
“Porcentualmente, o grupo de
15 a 24 anos é onde mais tem crescido o número de casos de HIV”, afirmou a
diretora do Programa de SIDA do Ministério da Saúde, Adele Benzaken. “Mas não é
só isso: os jovens dessa faixa etária são também os que menos se cuidam. Nossa
expectativa é ter um impacto significativo entre eles.”
Neste primeiro momento, a Prep
também será oferecida a outros grupos considerados mais vulneráveis, como
profissionais do sexo, pessoas trans, usuários de drogas e aqueles que se
relacionam sexualmente com parceiros seropositivos. Mas nem todas as pessoas
desses grupos são candidatas à profilaxia, alerta Adele. Por isso, os serviços
de saúde farão uma triagem dos candidatos.
Os defensores da técnica dizem
que a experiência brasileira será crucial para mostrar ao mundo os benefícios
do investimento na prevenção. O uso do medicamento combinado foi aprovado em
2012 pelos Estados Unidos. “Comunidades inteiras estão usando a Prep com
resultados muito claros na redução de risco”, diz o infectologista Estevão
Portella, da Fiocruz.
Mas os críticos do programa
temem que ele estimule o sexo sem preservativos. “Não posso ser contra um
medicamento que tem eficácia comprovada”, ressaltou o urologista Alfredo
Canalini, da Sociedade Brasileira de Urologia. “No entanto, notamos no
consultório que, com a chegada de coquetéis antiaids, quando as pessoas
passaram a ter maior sensação de segurança e passaram a usar menos
preservativos, vimos aumentar uma série de outras doenças, como sífilis.”
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